Queres saber por que escrevo? A resposta é simples.
Há uma mágica na arte de compor palavras, em viver personagens, desenhar histórias. Um feitiço que desperta multiplicidades, enquanto arremessa a razão ao inconsciente caótico do autor, trazendo à tona, como que por encanto, os mais variados seres.
Se pela manhã fui Vagner, servente de pedreiro, morador de uma casa de taipa, que molha sempre que chove, e, já aos 20, pai de duas filhas. À tarde sou Fernando, cego de nascença, que tem como sonho, antes de morrer, saber como é o azul, o verde, o rosto da mãe.
E a noite posso ser Gabriela, meretriz pobre, que vende o corpo pra sobreviver, precisando revezar as 3 calcinhas que tem pra não fazer feio no asfalto.
Caso eu canse da Gabriela, posso ser Jurema, Nilton, Tomás...
Posso ser bicho, posso ser coisa.
Posso ser tudo o que quiser, o que sou.
Enquanto explodo em minha variedade de Eu’s, transmito sentimento.
Comunico, deslizo.
Eu te toco.
Somente assim a mágica ganha vida, cor e som.
A faço desse jeito pobre mesmo que sei.
Meio torto, cambaleante, mas com luz.
Minha magia só tilinta, pulsa, quando é compreendida. Seja ela do jeito que for, pois assim que isso acontece, ela já não é mais minha.
Ela é tua, é nossa.
Foda-se a gramática correta, a semântica clara ou a sintaxe perfeita.
Foda-se tudo que enrijece, empedra e não conduz.
Minha rima não tem rima.
Ela tem magia, tem luz.