Não eram

Os dias já não eram os mesmos.
As horas passavam mornas, pacientes. Tudo estava em paz.
Deveria estar em paz.
Acontece que não há paz quando os dias deveriam ser outros dias,
as horas se arrastam como larvas e tudo caminha em direção a nada.
Angústia.
Sentimento miserável que te visita nos piores momentos do dia.
Momentos de solidão.
Se pelo menos o telefone tocasse. Ou o quarto explodisse.
Tanto faz. Não...
O que ele queria, de verdade, era que o mundo girasse.
Como um peão veloz que sai da mão de uma criança marota,
em fúria a riscar o chão, incontrolável e sem rumo.
Ele ainda sabia que o destino não era importante. Nunca o fôra.
Apenas lhe escapara a velocidade.
Ela que sempre o moveu, perdeu-se pelo caminho.
Agora o tempo era uma procissão de desejos e sonhos esquecidos
a passar ritmadamente, lentamente.
Permanecer nesse quarto já não lhe parecia tão ruim.
O tempo não mudaria se ele atravessasse a porta.
Nada mudaria.
Pelo menos aqui, os pensamentos são só seus.
A solidão não é compartilhada, é somente sua.
Viver torna-se esperar.
O problema é que o seu silêncio, cortado por barulhos alheios,
veste a máscara de sua angústia.
Ela que martela em sua cabeça,
congelando o seu ventre e turvando a sua visão, lhe mostra
que o que não é tão ruim, na verdade é péssimo.
Pessimista.
Não, chamasse-o de tudo, menos pessimista.
Ele pode ter perdido a velocidade.
Pode estar afogado em seus anseios.
Mas nunca abraçaria a amargura.
Levantara.

3 comentários:

Nati | 8 de agosto de 2010 às 23:12

Há! Esse é o meu preferido!
Muito massa mesmo Thales, adorei!
Parabéns :)

Unknown | 8 de agosto de 2010 às 23:22

Já te falei que tens o dom né? iaueueaue ;)

gui | 9 de agosto de 2010 às 23:54

"Viver torna-se esperar."

Para mim, nada ilustra tão bem a angústia como este contínuo tornar-se esperar do viver.

Excelente. Parabéns pela obra.

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