Nota Particular: Escrever

Queres saber por que escrevo? A resposta é simples.
Há uma mágica na arte de compor palavras, em viver personagens, desenhar histórias. Um feitiço que desperta multiplicidades, enquanto arremessa a razão ao inconsciente caótico do autor, trazendo à tona, como que por encanto, os mais variados seres.

Se pela manhã fui Vagner, servente de pedreiro, morador de uma casa de taipa, que molha sempre que chove, e, já aos 20, pai de duas filhas. À tarde sou Fernando, cego de nascença, que tem como sonho, antes de morrer, saber como é o azul, o verde, o rosto da mãe.
E a noite posso ser Gabriela, meretriz pobre, que vende o corpo pra sobreviver, precisando revezar as 3 calcinhas que tem pra não fazer feio no asfalto.

Caso eu canse da Gabriela, posso ser Jurema, Nilton, Tomás...
Posso ser bicho, posso ser coisa.
Posso ser tudo o que quiser, o que sou.
Enquanto explodo em minha variedade de Eu’s, transmito sentimento.
Comunico, deslizo.

Eu te toco.

Somente assim a mágica ganha vida, cor e som.
A faço desse jeito pobre mesmo que sei.
Meio torto, cambaleante, mas com luz.
Minha magia só tilinta, pulsa, quando é compreendida. Seja ela do jeito que for, pois assim que isso acontece, ela já não é mais minha.

Ela é tua, é nossa.

Foda-se a gramática correta, a semântica clara ou a sintaxe perfeita.
Foda-se tudo que enrijece, empedra e não conduz.
Minha rima não tem rima.

Ela tem magia, tem luz.

7 comentários:

Cauê | 5 de julho de 2011 às 00:02

Que isso rapaz! Luis Fernando Verissimo ficou com inveja.

U5u4r10 Kevin | 5 de julho de 2011 às 00:27

Muito afude velho ;)

Isabella M. Heemann | 6 de julho de 2011 às 14:26

Poxa, sempre fico sem o que falar quando leio o que tu escreve! Cada vez me surpreendo mais. Ficou demais, Thales!

Unknown | 15 de julho de 2011 às 00:12

Foda-se a gramática correta, a semântica clara ou a sintaxe perfeita.
Foda-se tudo que enrijece, empedra e não conduz.
Minha rima não tem rima.

Ela tem magia, tem luz.

Gostei muito desta postagem, achei muito parecido com o que realmente sinto quando escrevo algo, até mesmo algo que seja só pra mim mesma ler, sinto que escrever me leva a entender sentimentos que nem eu mesmo sabia que possuia...
Parabéns, conseguistes transmitir algo que muitos escritores demoram a entender!

Pricilla Farina Soares | 22 de julho de 2011 às 16:24

Se escreve para se ser quem não é. Quem se poderia ter sido. Quem gostaria de ser ou até, quem se será.
Escreve-se para fugir, ou se encontrar. :)
Adorei a postagem!

gui | 25 de julho de 2011 às 11:59

Cara, já passei por este textos umas quantas vezes e evitei lê-lo outras tantas porque, de fato, a própria ideia.de escrever tem sido uma luta pra mim. Não sei como comentar algo que não seja ignorante ou simplista, mas arrisco dizer que o escritor é, por vezes, um incompreendido e um solitário. Escrever é, de alguma forma, gritar, apontar, arriscar a si mesmo e tudo para si mesmo. Sempre encarei assim: escrever é, ao mesmo tempo, a ignorância e a coragem de se jogar de um prédio e a esperança e a confiança de que alguém vá segurar o cara. Mas, de novo, isso é apenas uma mancha em um lado do que é escrever. E, do mesmo jeito, é uma manchinha que vale para a ideia de viver. Não vejo uma fórmula, não vejo uma decisão é não vejo uma conversa dessa fluir sem uma cerveja.

Abraços!

Thales Vieira | 31 de agosto de 2011 às 15:18

Li esses comentários um bocado de vezes e não sei o porquê de ainda não tê-los respondido. Talvez, porque realmente desconheça o que seja escrever. Essa incessante busca por algo que está sempre em transformação. Essa insana busca por sim mesmo.
Acredito, apenas, que a resposta esteja em cada um. Única, própria e indivisível.
Quem sabe transmissível, quem sabe...


Obrigado pelos comentários, amigos!