Eu estava só.
Completamente só e, dessa vez, definitivamente.
Jéssica foi embora pra não mais voltar.
E eu só tinha Jéssica.
Mandei ela tomar no cu há quinze minutos atrás, disse que ela é uma vadia, idiota, que não sabe nem limpar uma casa.
Cadela imprestável.
Que morra na rua, de fome ou de sífilis.
Apaguei a vela.
Parabéns pra mim.
Negro
Pequeno Conto Soturno (2)
Tem uma mulher de bigode do meu lado, puta que pariu. Em 2011, uma merda de uma mulher de bigode. E não me venham com discursinho humanitário e socialista em defesa dessa criatura que provavelmente, diriam, está a margem da sociedade e blá blá blá, blá blá blá. Porra, um orangotango a margem da sociedade sabe o que é uma gilete. Pior ainda é esse ônibus que não chega nunca, aposto, inclusive, que terei que ficar ao lado dessa linda senhora no ônibus também. Óbvio que ela vai entrar no Jardim Sul, ô sorte da porra essa minha... Não bastasse passar o dia na portaria do magnífico prédio de grã-fino dizendo, com a maior cara de pau, bom dia Senhora, fique a vontade Madame, quer ajuda com as compras? Boa tarde Senhor, belo carro Vossa Senhoria possui, me deito no chão agora ou depois? Minha vontade era socar a cara dessa gente toda, cuspir neles, chutar até cansar. Pelo menos, todos eles conhecem gilete... E são uns filhos da puta de primeira também. Espertos mesmo. Mora uma vadia lá que deve ter uns 23, rasgando, e é uma delícia que só ela. Acontece que o apartamento que ela vive não é dela, é de um velho chique que só. Mas pura pelanca também. Ele tem a chave, sobe direto, nem olha na minha cara o filho da puta. Vai lá umas 3 ou 4 vezes por semana, mas tem semana que nem aparece. Ele contratou até um chofer pra putinha, num Audi A3 ainda por cima, leva ela pra cima e pra baixo, cara de confiança. Isso o velho burro pensa. Foi só a safadinha abrir as pernas no banco de trás, mostrar a bucetinha sem calcinha, que o pobre do motorista já tava se babando todo. Com aquela carinha que ele tem, achar mulher com 32 dentes já é difícil, um tipo daqueles então, nem na melhor das punhetas. Daí, foi um tapa né. A gostosinha chupa o pau do chofer uma ou duas vezes por semana e tá feito. Pelo menos, foi o que ele me disse né. Mas eu acredito, o apartamento tá mais frequentado que lojinha na 25. Vai garoto, garotão, garotões e, às vezes, garotas também. Uma orgia danada. E eu não a culpo, não. A moça é nova, gostosa, tem mais é que enganar rico trouxa e dar bastante. Aposto que dar é o que ela faz de melhor. Quem sabe um dia eu descubra... Foi pensar nisso que meu pau endureceu. Foi olhar pro bigode da mulher que ele logo amoleceu também. Com esse bigode e essa barriga d’água, ela não deve dar há horas. Se bem, que sempre tem um chinelo velho né, um fedorento sem dente e safado. Sorte a dela... (risos). Eu que tô sem transar há uns meses. Cansei de puta pobre e de viciadinha em crack. Prometi a mim mesmo, a próxima agora tem que ser de qualidade. Tem que ser de graça. A minha cara não ajuda mas tô nem aí, o que mais tem é mulher boa com homem feio. Homem feio e rico, infelizmente. Pensando bem, nunca comi uma mulher de bigode. Me aproximei e rocei o pau na gorda. Tava meabomba. Ela se riu toda.
Paralela Realidade
Sempre gostei de lugares escuros, da fumaça densa, do repertório arrastado.
Conheço tantos lugares assim, e ainda conheço tão poucos.
Hoje, acabo de acordar de mais um.
Como se tivesse passado o nariz em uma linha, eu estive lá em cima.
No fim, despertei lá embaixo.
Voltar é continuamente dolorido.
Dói deixar para trás as cores novas, os sabores presos na língua, os amores marcados na pele.
As sensações que viram lembranças.
E que nunca mais deixarão de sê-las.
A certeza de nunca mais retornar a mesma sala escura, de que a fumaça não será a mesma, e de que o repertório?
Ele sempre, sempre, mudará.
Basta aceitar o pouco que ficou em mim, o pouco que lá deixei.
Compreender a pontualidade e a finitude dos universos paralelos que permeiam nossas realidades diárias, torna-nos fortes.
Pois são eles que nos mantêm firmes, enfrentando a rotina, numa luta a qual jamais sairemos vivos.
A eterna certeza de que, mais cedo ou mais tarde, fugiremos pra aquele lugar escuro e mágico.
Escuro pra mim, talvez azul, vermelho ou verde pra você.
Porém, apostaria que, mágico para ambos de nós.
Todos precisam de novos universos, novas vidas, por mais curtos que sejam.
Lugares que encantem.
Que se esvanecem num piscar de olhos.
Lugares que permanecerão sempre em nós, mesclando-se ao que somos.
E que estarão sempre lá para serem acessados, redescobertos, pela bela e amarga nostalgia.
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