Sincera, falsa solidão.


Um gole, apenas mais um.
Prometo que será o último... dessa noite.
O trabalho, por enquanto, permanecerá inacabado.
Entre as várias bengalas que a vida pode-lhe oferecer, não há nenhuma mais simpática que um whisky doze anos com duas pedras de gelo. E que fique claro, as duas pedras de gelo são dispensáveis.
Quando vim para Frankfurt, há exatos 8 meses atrás, não mensurava o suporte que certos vícios hedonistas da vida me proporcionariam.
A saudade de minha linda esposa Clara, mulher altiva, daquelas de uma elegância de dar inveja a uma Juliette Binoche. E um perfume, ah... Ela tem aquele cheiro de manhã de domingo que nasce morna e salpicada pela chuva. Se eu pudesse dar a ela um segundo nome, a chamaria de perdição.
Isso sem falar nas minhas princesas, a Júlia e a Fernandinha. Aposto que se você pensar em duas mocinhas meigas e risonhas vai conseguir, no máximo, uma rasura borrada delas. A Júlia é uma verdadeira dama, isso com 6 anos, ela adora maquiagem e quando põe os saltos da Clara então, nossa, ninguém agüenta 5 minutos do lado dela sem dar um apertão. Já a Fernandinha é mais moleca, parece que nasceu com o dom de atrair todo o tipo de sujeira possível pra aquele corpinho esguio. O engraçado, é que quanto mais suja ela fica, mais forte seu pequeno sorriso brilha. É lindo...
Penso nelas a todo o momento. É o melhor remédio para o frio alemão que conheço.
Acompanhado de uma ou duas doses, é claro.
Minha vontade é voltar agora para o Brasil, correr para abraçá-las como se fosse à última vez, mas ficar junto a elas para sempre.
Infelizmente, as obrigações de chefe de família me fazem permanecer aqui e lutar. Batalhar por elas a cada dia, para tornar menos sinuoso o caminho de suas vidas, principalmente, o das minhas pequenas.
Ai, ai... Já estou ficando melancólico demais. Porém, o álcool, em minhas mãos, e a solidão, em minha alma, provocam efeitos inebriantes fortíssimos.
Na verdade, se a Catarina, pela terceira vez, não demorasse tanto para mandar uma de suas garotas, eu já estaria concluindo meu serviço e não me remoendo em saudade.

4 comentários:

Isabella M. Heemann | 4 de fevereiro de 2011 às 22:42

De verdade? Tu tem escrito cada vez melhor! Muito bom!

Gabi Lamas | 5 de fevereiro de 2011 às 03:41

Sim, Thales, as duas pedras de gelo são dispensáveis. haha

Emanuelle Freitas | 5 de fevereiro de 2011 às 14:36

Thales! Eu me encanto cada vez mais. A 'verdade' com que contas cada detalhe é incrível. Parabéns.

Unknown | 7 de fevereiro de 2011 às 00:55

Tá escrevendo muito bem! Sério, muito bem mesmo, cheguei a me assustar com o profissionalismo!